sobre saudade e joaninhas

Outro dia estava sentado na porta de minha antiga rua. Lembrei de como ela mudou, de como as gerações cresceram, de como nós crescemos. Olhava as antigas mangueiras que antes imperavam soberanas, trazendo muitos choros por conta das pipas nelas enganchadas. Olhava as crianças que não existiam e as crianças que hoje não existem mais. Olhei infâncias diferentes, infâncias menos puras. Muitas vezes pensamos que as crianças e os tempos não são mais como antigamente. Dizemos que hoje é mais quente, que antes chovia mais, que era menos perigoso, que ganhávamos mais dinheiro e a gasolina era mais barata.

Tenho saudades do meu tempo, ou, como dizia um amigo "do tempo di conde nois era prego". Saudade de quando arrastava a cadeira verde de balanço na 24 de janeiro. Era o meu cachorro invisível, que nunca tinha fome, nunca dormia e nem precisava banhar; Das joaninhas no pé de amendoa da esquina [e por falar nisso, cadê as joaninhas do mundo?]; Das brincadeiras de "se esconde". Das primeiras festinhas, as primeiras bebedeiras, as paqueras, os ficas; As mensagens em papel, passadas pelo buraco da sala. Strani Amore , Scrivimi cantadas pelo Renato Russo. O pagode do Só Pra Contariar, Katinguelê e Negritude Jr. e vários outros que piraava! As nervosas ligações pro ainda 227-10**; Aquela carta e a sua foto que ainda hoje guardo com seu cheiro e suas palavras carinhosas; Achava que nunca ia crescer, que nunca me casaria e que não teria filhos.

E no mais tudo volta ao mesmo. O mundo se repete. É! se repete. Escutei aquela música e lembrei de você. Foi o dia todo. Música véa pegajosa, daquelas que batem, batem e batem na cabeça. Volta e meia você fica repetindo aquele refrão. E principalmente aquele que fala de amor. Ah! o amor. Tão doce e venenoso como uma cobra misturada com sereia embalsamada em doce de caju. Ou seria algo mais doce?

Não sei de nada.
Mas e vem cá.
Me responde uma coisa.
Por onde andam as joaninhas mesmo héin??